Quando muito usadas, algumas palavras acabam se desgastando e perdendo sua força. No caso da palavra amor, a vemos empregada para designar realidades muito diversas e até mesmo profundamente contraditórias entre si: amor a Deus, amor à pátria, amor à família, amor a um time, amor a um artista, amor à natureza, ao carro, a um animal de estimação... No fim das contas, essa gama de significados está se referindo a uma mesma realidade do amor ou estamos usando a palavra amor erroneamente?
Aprendemos com a filosofia grega a usar três termos diferentes para definir e falar do amor: Eros, philia e ágape.
Àquela forma de amor natural, que praticamente se impõe ao homem e a mulher, os gregos chamavam amor Eros, que tinha como características a sensualidade, a posse, o romantismo que impele o ser humano a relacionar-se com outra também no aspecto físico, sendo muito ligado a relação sexual.
O amor de amizade,que inclui bem querer, simpatia e fidelidade, chama-se amor philia. Partindo desse termo grego, compreendemos o significado de muitas palavras que entraram em nossa língua: filosofia(amor à sabedoria), filocalia(amor à beleza), filantropia(ao ser humano), entre tantas outras.
Por fim os gregos nos deram a definição do amor ágape: amor-doação, amor entrega, que sai de si em benefício do outro, capaz de doar-se, dar a vida, amor que faz tudo pelo amado. Um amor incondicional que também é perdão. Os primeiros cristãos viram essa definição grega de amor personificada em Jesus de Nazaré, que aceitou uma morte dolorosa na cruz por amor à humanidade inteira. Assim é possível compreender porque a Missa – que celebra justamente esta entrega amorosa de Jesus de Nazaré – foi, no início da Igreja, chamada de ágape.
Vimos que o percurso dessas três palavras gregas parece nos indicar justamente um itinerário de amadurecimento de um único amor. O amor Eros que amadurece até tornar-se ágape, passando pelo amor philia. Separadas cada uma dessas expressões parece incompleta. O Eros sozinho reduz-se à posse egoísta, o philia à superficialidade, o ágape à negação do eu. O cristianismo realizou uma maravilhosa síntese quando chamou ao amor com a palavra latina Cáritas. Não é para fazer confusão com a palavra caridade, bastante desgastada atualmente. Mas ver que todas as formas de amor – Eros, philia, ágape – encontram uma definição excelente na palavra cáritas. Tanto é que a definição de Deus no Novo Testamento seria assim traduzida para o latim: Deus cáritas est – Deus é amor(1 Jo 4, 16). A cáritas é a plenitude de todas as formas de amor.
Para terminar: há alguns dias atrás uma amiga me presenteou com o livro “Uma Arte de Amar para os nossos Tempos - O Cântico dos Cânticos”( Jean-Yves Leloup, Ed. Vozes). Gostei muito da obra, dado o interesse que tenho pelo Cântico dos Cânticos, que mistura elementos de poesia e beleza, resultando num magnífico hino bíblico ao amor. Recomendo a todos essa leitura.
2 comentários:
Ótimo texto. Serviu muito para minha pesquisa e consequentemente para meu texto.
http://c-omoumaonda.tumblr.com/eros-philia-agape
Bem claro e objetivo o conteúdo.
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